quinta-feira, 1 de março de 2012



NÃO BRINQUE COM OS MORTOS
            Aqueles olhos extremamente azuis chamaram a atenção de Bianca naquela noite. O baile ia animado e ela não conseguia desviar o olhar daquele belo rapaz que ali se divertia quase do seu lado. Ela precisava ficar com ele, era o rapaz mais lindo que ela já tinha visto em toda a sua vida. Deu um jeito de esbarrar nele e de acordo com seu plano conseguiu chamar-lhe a atenção, pois ela também era uma garota muito bonita.
            Depois de Bianca jogar muito charme o rapaz se apresentou:
            _Oi, meu nome é Rafael, e o seu?
            Essa foi a deixa para que os dois pudessem ficar juntos o resto do baile. Bianca havia se esquecido até que tinha saído junto com seus três amigos: Pedro, Mariana e Vanderlei. Voltaram a se encontrar no final do baile para irem embora juntos.
            Na volta para casa passaram em frente ao cemitério exatamente às três horas da madrugada. Vanderlei de repente pára e, na maior zoeira, desafia os outros a entrarem ali.
            _Duvido a gente entrar aí e chamar os mortos pra vir conversar com a gente.
            De início todos olharam para ele assustados, mas depois começaram a rir e toparam. Pularam o enorme portão de ferro e, meio ressabiados, começaram a vagar por entre os túmulos. As fotos sombrias e os epitáfios nas lápides chamavam a atenção do grupo.
            _Olha essa foto, coitada, morreu com dezesseis anos... A mesma idade da maioria de nós.
            _Morreu, morreu. Antes ela do que eu! – Falou rindo Mariana.
            Todos começaram a rir... O impressionante é que mesmo depois que a “graça” passou e que todos pararam de rir, uma gargalhada gutural começou a ecoar por entre os túmulos. Agora aquele bando de adolescente não estava achando mais graça nenhuma.
            _Quem tá aí?Isso não tem graça! – Disse Vanderlei, o mais velho do grupo. – Vamos sair daqui pessoal.
            No instante seguinte estavam todos correndo. Correram feito loucos em direção ao portão, mas o portão parece que havia sumido. As meninas choravam freneticamente. Aquela risada infernal ecoava por todo o cemitério.
            _Eu quero sair daquiiiiiii! – Gritava Bianca segurando fortemente as mãos de Rafael– E a risada ficava cada vez mais estridente.
            Desesperados, mas cansados, todos se abraçaram e se encolheram a um canto.
            Rafael, o colega que eles conheceram naquela noite no baile, de repente se levanta e diz:
            _ Pessoal, não vamos nos deixar abater. Vamos sair daqui. – Com essas palavras ele deu coragem aos outros que se levantaram e começaram a segui-lo em busca do portão de saída. Caminharam muito por entre os túmulos mal iluminados pela luz da lua. Ao longe avistaram o portão e correram em sua direção. Porém quanto mais corriam mais o portão se distanciava.
            Quando já estavam sem fôlego para continuar, Bianca encostou-se num dos túmulos e de repente todos os pêlos de seu corpo se eriçaram. A foto na lápide mostrava um lindo garoto com os olhos extremamente azuis, era de Rafael. Não teve forças para gritar, apenas chamou a atenção dos outros para aquela terrível descoberta. Todos olharam para Rafael. O rapaz sorriu e apontou seu epitáfio onde todos leram : “Já fui o que tu és, serás o que sou hoje”.
            Dizem que os quatro amigos daquela noite nunca mais foram os mesmos.