NÃO BRINQUE COM OS MORTOS
Aqueles olhos extremamente azuis
chamaram a atenção de Bianca naquela noite. O baile ia animado e ela não
conseguia desviar o olhar daquele belo rapaz que ali se divertia quase do seu
lado. Ela precisava ficar com ele, era o rapaz mais lindo que ela já tinha
visto em toda a sua vida. Deu um jeito de esbarrar nele e de acordo com seu
plano conseguiu chamar-lhe a atenção, pois ela também era uma garota muito
bonita.
Depois de Bianca jogar muito charme
o rapaz se apresentou:
_Oi, meu nome é Rafael, e o seu?
Essa foi a deixa para que os dois
pudessem ficar juntos o resto do baile. Bianca havia se esquecido até que tinha
saído junto com seus três amigos: Pedro, Mariana e Vanderlei. Voltaram a se
encontrar no final do baile para irem embora juntos.
Na
volta para casa passaram em frente ao cemitério exatamente às três horas da
madrugada. Vanderlei de repente pára e, na maior zoeira, desafia os outros a
entrarem ali.
_Duvido
a gente entrar aí e chamar os mortos pra vir conversar com a gente.
De
início todos olharam para ele assustados, mas depois começaram a rir e toparam.
Pularam o enorme portão de ferro e, meio ressabiados, começaram a vagar por
entre os túmulos. As fotos sombrias e os epitáfios nas lápides chamavam a
atenção do grupo.
_Olha
essa foto, coitada, morreu com dezesseis anos... A mesma idade da maioria de
nós.
_Morreu,
morreu. Antes ela do que eu! – Falou rindo Mariana.
Todos
começaram a rir... O impressionante é que mesmo depois que a “graça” passou e
que todos pararam de rir, uma gargalhada gutural começou a ecoar por entre os
túmulos. Agora aquele bando de adolescente não estava achando mais graça
nenhuma.
_Quem
tá aí?Isso não tem graça! – Disse Vanderlei, o mais velho do grupo. – Vamos
sair daqui pessoal.
No
instante seguinte estavam todos correndo. Correram feito loucos em direção ao
portão, mas o portão parece que havia sumido. As meninas choravam
freneticamente. Aquela risada infernal ecoava por todo o cemitério.
_Eu
quero sair daquiiiiiii! – Gritava Bianca segurando fortemente as mãos de Rafael–
E a risada ficava cada vez mais estridente.
Desesperados,
mas cansados, todos se abraçaram e se encolheram a um canto.
Rafael,
o colega que eles conheceram naquela noite no baile, de repente se levanta e
diz:
_
Pessoal, não vamos nos deixar abater. Vamos sair daqui. – Com essas palavras
ele deu coragem aos outros que se levantaram e começaram a segui-lo em busca do
portão de saída. Caminharam muito por entre os túmulos mal iluminados pela luz
da lua. Ao longe avistaram o portão e correram em sua direção. Porém quanto
mais corriam mais o portão se distanciava.
Quando
já estavam sem fôlego para continuar, Bianca encostou-se num dos túmulos e de
repente todos os pêlos de seu corpo se eriçaram. A foto na lápide mostrava um
lindo garoto com os olhos extremamente azuis, era de Rafael. Não teve forças
para gritar, apenas chamou a atenção dos outros para aquela terrível
descoberta. Todos olharam para Rafael. O rapaz sorriu e apontou seu epitáfio
onde todos leram : “Já fui o que tu és, serás o que sou hoje”.
Dizem
que os quatro amigos daquela noite nunca mais foram os mesmos.