quarta-feira, 12 de maio de 2010

O MEDO

Quase meia noite. Marcelo vinha da festa que teve na casa do amigo Marcão.

Ninguém na rua. Tudo estava calmo. A noite estava gelada e uma fraca neblina cobria um pouco a visão.

Vinha ele encolhido e com o capuz na cabeça para aquecer as orelhas, o nariz estava gelado e de vez em quando ele esfregava as mãos uma na outra e colocava perto da boca soltando um bafo quente para tentar aquecê-las.

Estava preocupado. Sabia que tinha que passar perto do cemitério e pelo seu cálculo mental estaria passando por lá meia noite em ponto. Diminuiu um pouco os passos para ver se a meia noite chegava antes disso.

“Meu Deus, a gente só pensa besteira quando estamos sozinhos à noite.”

Lembrou-se do filme “Jogos Mortais” que ele havia assistido ontem. Ficou com mais medo ainda e sentiu o couro da cabeça arrepiar. Lembrou-se também do filme “O Sexto Sentido” que assistira há algum tempo. No filme falava que quando soltamos fumacinha pela boca e pelo nariz e quando nos arrepiamos é porque os espíritos estão por perto. Sentiu calafrios. “Por que fiquei até tarde na casa do Marcão?” Arrependia-se agora.

Viu ao longe duas luzes luminosas que vinha se aproximando dele. Encostou-se mais para a calçada. Era um carro preto enorme com seus faróis ligados.

Sentiu-se mais aliviado por ver essa movimentação.

Quando o carro passou por ele devagarzinho ele deu uma olhada para dentro do carro que estava com o vidro aberto. O homem que ocupava o banco do passageiro olhou para ele, tinha os olhos vermelhos, quase acesos, deu um sorriso escabroso para Marcelo e foi aí sim que Marcelo tremeu, pois a boca do homem era enorme, pegava de uma orelha à outra e os dentes eram bem afiados. O carro passou e sem querer Marcelo mijou nas calças. Saiu correndo para chegar logo em casa. Tinha medo que aquele carro voltasse. Novamente viu dois faróis acesos vindo em sua direção e seu coração disparou quando percebeu que o carro era o mesmo. “Como pode ser, aquele carro não tinha voltado, tinha seguido em frente”. Parou assustado e novamente aquele homem de olhos vermelhos e enorme boca sorriu para ele.

Marcelo ficou paralisado pelo medo. “O que devo fazer? Se eu voltar para a festa vão ver que eu mijei nas calças e se seguir em frente vou passar pelo cemitério.”

Decidiu voltar para a casa do Marcão, deu meia volta e andou um pouco. Lembrou-se que a Shirlei (a menina de quem ele gostava) estava lá, não podia “pagar esse mico”. Resolveu voltar para casa. Novamente deu meia volta e continuou andando. A neblina judiava ainda mais de seus medos. Avistou as cruzes do cemitério em meio a neblina. O coração de Marcelo parecia que ia sair pela boca. Começou a rezar baixinho “Pai nosso que estais no céu...” e seguiu em frente.

Quando ia passar em frente ao portão do cemitério viu um monte de cachorros latindo, tinha bem uns quinze cachorros, de todos os tamanhos.

Percebeu no meio da cachorrada dois cachorros pretos maior que o tamanho normal para um cachorro. Sentiu muito medo, mas “cachorro é cachorro, não é assombração.

Quando se aproximou os cachorros se afastaram num circulo e os dois cachorros pretos levantaram-se sobre duas patas, se abraçaram e começaram a dançar como se tocasse uma valsa e olharam para Marcelo. Sorriu igual ao homem do carro e um dos cachorros falou com voz grossa: “Quer participar da festa?”

Marcelo saiu correndo o mais que pôde e ao longe, atrás de si, ouviu risadas escabrosas. Chegou em casa e esmurrou a porta:

-Mãe, mãe! Abre a porta!

A porta se abriu sozinha. Mas tão assustado estava que entrou correndo e bateu a porta trancando-a.

Foi até o quarto de seus pais, eles estavam dormindo. Correu para seu quarto e nem quis deitar-se em sua cama; foi direto para a cama do seu irmão acordando-o:

-Douglas, posso deitar aí com você? Estou com medo!

Douglas, meio sonolento, disse que sim, encostou-se mais para o canto e Marcelo deitou molhado de xixi e tudo.

No outro dia, quando contou a história para a sua família e seus amigos, ninguém acreditou. Deram muita risada da cara dele, mas nunca mais ele ficou até tarde da noite na rua e só andava em companhia de alguém.

“E você? Acreditou na história do Marcelo?”

Pelo sim, pelo não... É melhor acreditar! Dessas coisas não se pode duvidar.

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