No trem.
-Pai! – chamava o garotinho de aparentemente seis anos.
-Quêê!- responde o pai sem tirar os olhos do jornal.
-Existe anjo?
-Acho que sim!
-Como eles são?
-Sei lá!
-Ah, pai! Você não quer falar porque tá ocupado! – Choramingou o pequeno.
-Fica quieto filho! O papai tá lendo uma coisa muito importante.
-Que é pai?
-Uma coisa, filho. Fica quieto!
O garoto deu uma resmungadinha, mexeu-se um pouco no banco e encostou a pequena cabecinha loura no braço do pai. Notou à sua frente uma linda garotinha negra que o encarava. Parecia ter a mesma idade dele. Usava dois rabinhos nos cabelos. Pareciam duas bolinhas de algodão, só que pretos.
A menininha sorriu para ele. Ele escondeu o rosto e depois a olhou de rabicho de olhos.
-Quieto filho, pra que se mexer tanto?
-Pai!?
-Hã?
-É verdade que existe anjo?
-É... existe! – Respondeu logo o pai para cortar o assunto. Olhou no relógio. O trem estava atrasado de novo. Todos os dias eram assim. Iria fazer uma reclamação por escrito.
-Como eles são, pai?
-Eles quem, João Pedro?
-Os anjos, pai! Como eles são?
-Eles são que nem você.
-Como assim, pai?
-São loirinhos, cabelos cacheados, olhos azuis, bochechas rosadas e tem asas.
-Mas pai, eu não tenho asas!
Pela primeira vez desde que haviam entrado no trem o pai sorriu, baixou o jornal e olhou para o filho.
-É verdade, filho! Você não tem asas! Mas você é louro, tem esses cachinhos nos cabelos, olhos azuis e olha só essas bochechas! São bem vermelhinhas. Parecem duas maçãs!
-É, mas eu não tenho asas!
O pai deu um beijo no garoto, sorriu e voltou a ler o seu jornal.
-Pai!?
-Quêê?
-Existe anjo preto?
-Não.
-Ah!
O garoto voltou a olhar a menininha negra que estava à sua frente. Sorriu para ela. Ela retribuiu o sorriso.
-Pai!?
-Que é João Pedro!
-Posso dar um chiclete “praquela” menininha lá?
-Qual? – Perguntou o pai sem muito interesse.
-Aquela lá que tá sentada no banco na nossa frente.
-Não.
-Por que não, pai?
-Se você levantar, você cai!
O homem deu uma olhada por cima do jornal e não viu menina alguma. Voltou à missão impossível da leitura.
João Pedro olhou novamente para a garotinha e percebeu que uma lágrima rolava pelo seu rostinho.
-Pai!?
-Hã!
-A menina tá chorando, eu acho que ela quer um chiclete.
O homem olhou novamente e não viu a menina.
-Pára de encher o saco, João Pedro! Deixa o papai terminar de ler o jornal!
João Pedro ajeitou-se no assento. O trem seguia seu percurso lentamente. Sacolejava muito. A menina estava lá. Suas lágrimas escorriam pelas faces e caíam em seu vestido azul manchando-o. Ela olhava tristemente para o garotinho agora. Estendeu-lhe a mão.
O garoto olhou de soslaio para o pai. Ele continuava a ler o seu jornal. Decidiu dar um chiclete à garota. Seu pai nem iria perceber. Levantou-se devagar com um chiclete na mão estendendo-o à menina. Ela esticava as mãozinhas. Quando João Pedro ia depositar a guloseima nas mãos da garota ela o segurou e uma coisa branca enorme os envolveu. Parecia uma grande cabana iluminada.
-O que é isso? – Perguntou João Pedro à menina.
-É nossa proteção! – Disse a menina.
-Que legal!!
-Vamos! – A menina segurando-o pela mão o puxou delicadamente.
-Aonde vamos?
-Você gosta de anjos?
-Gosto!
-Você vai conhecê-los!
De repente João Pedro estava no lugar mais lindo do mundo! Anjos... Anjos por toda parte. Ele notou que sua amiguinha tinha um lindo par de asas.
-Você é uma anja! – Disse ele admirado.
-Sou! E você também é. Veja que asas lindas você tem.
Só então o garoto reparou que também tinha asas. Ficou admirado.
-Noooossa! Eu também sou um anjo!?
-Olha lá! Quanta coisa linda! Vamos brincar? – Chamou a garotinha.
João Pedro olhou e não saberia explicar tamanha beleza. Tudo era muito lindo. Parecia uma cascata de mini-estrelas brilhantes que caía sobre fofas nuvens. Pequenos pôneis rodeados de arco-íris saltitavam por todos os lados. O menino correu feliz esquecendo-se de tudo. Queria muito brincar ali.
* * * * * * *
O pai chorava inconsolável. Não conseguia entender tamanha tragédia. Lembrava-se apenas de seu pequeno filho se levantando e estendendo a mãozinha para um lugar vazio onde não havia ninguém. Quando ia chamá-lo de volta um grande impacto atirou a todos para a frente . Ainda pôde ver o pequeno corpo chocando-se na porta do engate.
terça-feira, 18 de maio de 2010
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Muito show de bola \o
ResponderExcluirComentam bastante esse texto comigo na escola. Eu acho a história muito triste.
ResponderExcluiresse é um pensamento pessoal meu não importa se são anjos ou não se tu ve uma guria muito bunita sorrindo pra ti bah é problema !^ ^ uma lembrança que tenho da minha infancia era eu e meu irmão com meu pai no trem ... os pais nunca prestão atenção rsrs ^ ^
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