terça-feira, 18 de maio de 2010

EXISTE ANJO?

No trem.

-Pai! – chamava o garotinho de aparentemente seis anos.

-Quêê!- responde o pai sem tirar os olhos do jornal.

-Existe anjo?

-Acho que sim!

-Como eles são?

-Sei lá!

-Ah, pai! Você não quer falar porque tá ocupado! – Choramingou o pequeno.

-Fica quieto filho! O papai tá lendo uma coisa muito importante.

-Que é pai?

-Uma coisa, filho. Fica quieto!

O garoto deu uma resmungadinha, mexeu-se um pouco no banco e encostou a pequena cabecinha loura no braço do pai. Notou à sua frente uma linda garotinha negra que o encarava. Parecia ter a mesma idade dele. Usava dois rabinhos nos cabelos. Pareciam duas bolinhas de algodão, só que pretos.

A menininha sorriu para ele. Ele escondeu o rosto e depois a olhou de rabicho de olhos.

-Quieto filho, pra que se mexer tanto?

-Pai!?

-Hã?

-É verdade que existe anjo?

-É... existe! – Respondeu logo o pai para cortar o assunto. Olhou no relógio. O trem estava atrasado de novo. Todos os dias eram assim. Iria fazer uma reclamação por escrito.

-Como eles são, pai?

-Eles quem, João Pedro?

-Os anjos, pai! Como eles são?

-Eles são que nem você.

-Como assim, pai?

-São loirinhos, cabelos cacheados, olhos azuis, bochechas rosadas e tem asas.

-Mas pai, eu não tenho asas!

Pela primeira vez desde que haviam entrado no trem o pai sorriu, baixou o jornal e olhou para o filho.

-É verdade, filho! Você não tem asas! Mas você é louro, tem esses cachinhos nos cabelos, olhos azuis e olha só essas bochechas! São bem vermelhinhas. Parecem duas maçãs!

-É, mas eu não tenho asas!

O pai deu um beijo no garoto, sorriu e voltou a ler o seu jornal.

-Pai!?

-Quêê?

-Existe anjo preto?

-Não.

-Ah!

O garoto voltou a olhar a menininha negra que estava à sua frente. Sorriu para ela. Ela retribuiu o sorriso.

-Pai!?

-Que é João Pedro!

-Posso dar um chiclete “praquela” menininha lá?

-Qual? – Perguntou o pai sem muito interesse.

-Aquela lá que tá sentada no banco na nossa frente.

-Não.

-Por que não, pai?

-Se você levantar, você cai!

O homem deu uma olhada por cima do jornal e não viu menina alguma. Voltou à missão impossível da leitura.

João Pedro olhou novamente para a garotinha e percebeu que uma lágrima rolava pelo seu rostinho.

-Pai!?

-Hã!

-A menina tá chorando, eu acho que ela quer um chiclete.

O homem olhou novamente e não viu a menina.

-Pára de encher o saco, João Pedro! Deixa o papai terminar de ler o jornal!

João Pedro ajeitou-se no assento. O trem seguia seu percurso lentamente. Sacolejava muito. A menina estava lá. Suas lágrimas escorriam pelas faces e caíam em seu vestido azul manchando-o. Ela olhava tristemente para o garotinho agora. Estendeu-lhe a mão.

O garoto olhou de soslaio para o pai. Ele continuava a ler o seu jornal. Decidiu dar um chiclete à garota. Seu pai nem iria perceber. Levantou-se devagar com um chiclete na mão estendendo-o à menina. Ela esticava as mãozinhas. Quando João Pedro ia depositar a guloseima nas mãos da garota ela o segurou e uma coisa branca enorme os envolveu. Parecia uma grande cabana iluminada.

-O que é isso? – Perguntou João Pedro à menina.

-É nossa proteção! – Disse a menina.

-Que legal!!

-Vamos! – A menina segurando-o pela mão o puxou delicadamente.

-Aonde vamos?

-Você gosta de anjos?

-Gosto!

-Você vai conhecê-los!

De repente João Pedro estava no lugar mais lindo do mundo! Anjos... Anjos por toda parte. Ele notou que sua amiguinha tinha um lindo par de asas.

-Você é uma anja! – Disse ele admirado.

-Sou! E você também é. Veja que asas lindas você tem.

Só então o garoto reparou que também tinha asas. Ficou admirado.

-Noooossa! Eu também sou um anjo!?

-Olha lá! Quanta coisa linda! Vamos brincar? – Chamou a garotinha.

João Pedro olhou e não saberia explicar tamanha beleza. Tudo era muito lindo. Parecia uma cascata de mini-estrelas brilhantes que caía sobre fofas nuvens. Pequenos pôneis rodeados de arco-íris saltitavam por todos os lados. O menino correu feliz esquecendo-se de tudo. Queria muito brincar ali.

* * * * * * *

O pai chorava inconsolável. Não conseguia entender tamanha tragédia. Lembrava-se apenas de seu pequeno filho se levantando e estendendo a mãozinha para um lugar vazio onde não havia ninguém. Quando ia chamá-lo de volta um grande impacto atirou a todos para a frente . Ainda pôde ver o pequeno corpo chocando-se na porta do engate.

3 comentários:

  1. Comentam bastante esse texto comigo na escola. Eu acho a história muito triste.

    ResponderExcluir
  2. esse é um pensamento pessoal meu não importa se são anjos ou não se tu ve uma guria muito bunita sorrindo pra ti bah é problema !^ ^ uma lembrança que tenho da minha infancia era eu e meu irmão com meu pai no trem ... os pais nunca prestão atenção rsrs ^ ^

    ResponderExcluir